Da série: SABOR E HUMOR
Nunca conheci quem gostasse de fatias grossas de presunto. Mas os padeiros não parecem pensar assim...
Na padaria, peço presunto, mas o atendente me entrega fatias que mais parecem uns escalopinhos.
- Será que a fatia não podia ser mais fina? – eu falo bem educada.
-Está fina, senhora.
- Não, não está.
- Está, essa é uma fatia fina.
Que cinismo!!!
Fico parada olhando pra ele com o presunto nas mãos, levemente ameaçadora. Ele repete:
- É UMA FATIA FINA, senhora.
Eu o olho, vejo que ele não vai ceder. Muito menos eu, que não vou pagar por uma coisa que não quero.
- Ah, deixa pra lá. Não vou levar, obrigada. Não é fina pra mim.
É a terceira vez que eu dou chance pra essa padaria. Só porque ela é a mais próxima da minha casa. Da última vez, o padeiro queria me dar um pão frio. Eu não aceitei. Fiquei esperando o quente. Quando o pão quente chegou, ele discretamente misturou com os que estavam frios fingindo separá-los. Fui embora. Não volto mais lá. Resolvo andar mais umas cinco ruas pra ir à próxima padaria, onde o atendente se gaba de cortar fino o presunto. Sei disso, porque uma vez fui lá, pedi presunto cortado fino e ele se gabou em ALTO E BOM SOM:
-AQUI NÃO PRECISA PEDIR, FREGUESA, SÓ TEM PRESUNTO CORTADO FININHO!
Fico na fila (uma fila na horizontal que não é propriamente uma fila, diga-se de passagem) ao lado de duas mulheres: uma mais velha , outra mais nova.Ele está atendendo a mais nova , que pede presunto, sem especificar nada e vem as indefectíveis fatias fininhas.
Penso : “beleza, estou no lugar certo”. O outro atendente me olha e pergunta o meu pedido. Digo e ouço a mulher nova, que acabou de ser atendida, dizer, quando o cortador de fatias finas pergunta se ela quer mais alguma coisa:
- Mais nada, obrigada. Agora é a vez desta senhora aqui que estava na fila. (ela se refere à mulher mais velha)
Por que ela frisou isto? O que ela pensou? Eu por acaso, tenho cara de furadora de filas?
Senti-me indignada, eu só estava respondendo a uma pergunta. Olhei pra ela com o meu olhar mais horroroso. Brasileiro gosta tanto de fila, que defende a vez dos outros. E ela saiu, toda orgulhosa de si, se achando a defensora dos velhinhos desprotegidos que se postam na fila, quando chegou um homem todo homem, que disse com voz de homem:
- Meu amigo, faz aí pra mim um sanduiche de mortadela com queijo pra viagem!
Não tomou conhecimento de nenhuma fila, mas o seu ar era tão autoritário, tão cheio de si, que um dos atendentes saiu correndo pronto a atendê-lo esquecendo-se de mim e da velhinha.
O cortador de presunto fino disse baixinho pro amigo estressado:
- Agora não pode, ele vai ter que esperar. Tem gente na fila.
O homem todo homem me olhou com raiva e saiu pra procurar sucos. Ele pode. Ele é homem.
O cortador de presunto fino trouxe o meu, finalmente. Fatias perfeitas para um bife, tais quais as da outra padaria. Penso: “Não andei mais de dois quilômetros pra levar essa droga de presunto”. Quando peço pra ele cortar de novo, ele se ofende.
- A senhora não disse nada.
-Pensei que fosse uma regra da casa o presunto fino. Sempre ouvi por aqui...
- Não. Aqui é do gosto do freguês.
Onde estava o cara que se gabava de só cortar presunto fino? Pois é , a cantinela muda conforme a preguiça se apresenta. A regra é: “Faça mal feito, se ninguém pedir bem –feito”
- Acho que ninguém gosta de presunto cortado assim - eu disse tentando ganhar a discussão.
(Eu sei, sou muito competitiva.)
- Gosta sim, senhora.
Bom,eu vou precisar voltar nesta padaria. Tenho que me lembrar que lá tem presunto fininho, se eu pedir bem pedidinho e/ou defender velhinhos na fila(horizontal), que não pediram pra ser defendidos. Além de tudo, tenho uma regra de ouro: nunca discuto com quem me serve comida.
Mesmo assim, arrisco uma pra ganhar a “discussão”:
- Tem gente que não gosta de chocolate e tem gente que prefere bife bem passado....
Ele me olha, sem entender. Resumo o meu raciocínio:
- Ah, que fazer, né, moço? Tem gosto pra tudo...
Sorrio, peço desculpas pelo contratempo e vou embora. Aqui nessa provincinha é assim: mesmo com razão você vive pedindo desculpas e tem que se estressar por um presunto...
Este é um blog literário contendo crônicas, poemas, contos, e, vez ou outra, alguma crítica e sonhos revelados.
terça-feira, 25 de novembro de 2014
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
DA SÉRIE FORA DA GAVETA: "As aventuras de Paulina"
Eu gosto de escrever pra crianças, mas nunca tentei publicar nada, porque minha filha e outros críticos cri-cris falam que a minha linguagem não é infantil. Bom, julgue quem puder ou souber, eu continuo escrevendo o que gosto... Esse é um TRECHO do meu mais recente texto "infantil"...
"- Paulina, sai dessa janela e para de fazer festa de comunista!
Pois é, essa é a minha mãe, ela sempre tá me chamando de comunista, uma coisa que nunca entendi direito. Perguntei pro meu pai que parece saber tudo, ou parecia pelo menos até eu perguntar isso pra ele, daí ele desconversou, fez um ar de vassoura virada do avesso, com os olhos pra cima como ele faz quando não quer responder uma pergunta e daí voltou ao livro que estava lendo, nem deu mais por mim. O meu pai é assim, se ele revira os olhos e vira pro lado pra fazer alguma coisa diferente eu já sei que ele não vai me responder mesmo. Pra minha mãe não adianta nem perguntar, porque ela não deve nem saber o que é comunista , porque ela tá sempre falando o que ela não entende.
Eu reparei nisso quando vi um filme com ela e a atriz, que ela gosta muito porque vive falando “ah, a Norma Souto é uma atriz magnífica”, então, ela viu a norma Souto dizer num filme, encostada numa parede, de peruca loura: “isso é muito complacente” e soltava uma baforada de cigarro.
Daí ela ficou uma semana encaixando essa palavra em tudo o que ela falava, veio uma vizinha pedir uns copos emprestados e quando a vizinha foi embora , a minha mãe se virou pra mim e o meu irmão e disse com ar de pessoa muito inteligente: "a Marlene é muito complacente, imagina vir aqui pedir copos emprestados. Que coisa”. Se a Judite gastava um pouco mais de sabão pra lavar a roupa, era porque “ela era muito complacente”; se o meu pai atrasava-se pro jantar, era “complacente demais”. Só faltava acender um cigarro e colocar uma peruca loura. Mas o meu pai não ia gostar, que “mulher que fuma é um problema” ele dizia sempre isso da prima Ernestina, quando ela vinha nos visitar a casa ficava muito “empestiada”, essa era outra palavra que minha mãe adorava. Empestiada podia ser tanto uma "fedentina" no recinto, quanto uma criança que era, uma peste, como eu.
Além de peste, comunista. Resolvi ir pro dicionário . Estava lá: “Comunista: doutrina ou sistema social que preconiza a comunidade de bens e a supressão da propriedade privada”. Danou-se, eu não sei o que é sistema social nem muito menos propriedade privada, eu só tenho onze anos.(...)"
-
"- Paulina, sai dessa janela e para de fazer festa de comunista!
Pois é, essa é a minha mãe, ela sempre tá me chamando de comunista, uma coisa que nunca entendi direito. Perguntei pro meu pai que parece saber tudo, ou parecia pelo menos até eu perguntar isso pra ele, daí ele desconversou, fez um ar de vassoura virada do avesso, com os olhos pra cima como ele faz quando não quer responder uma pergunta e daí voltou ao livro que estava lendo, nem deu mais por mim. O meu pai é assim, se ele revira os olhos e vira pro lado pra fazer alguma coisa diferente eu já sei que ele não vai me responder mesmo. Pra minha mãe não adianta nem perguntar, porque ela não deve nem saber o que é comunista , porque ela tá sempre falando o que ela não entende.
Eu reparei nisso quando vi um filme com ela e a atriz, que ela gosta muito porque vive falando “ah, a Norma Souto é uma atriz magnífica”, então, ela viu a norma Souto dizer num filme, encostada numa parede, de peruca loura: “isso é muito complacente” e soltava uma baforada de cigarro.
Daí ela ficou uma semana encaixando essa palavra em tudo o que ela falava, veio uma vizinha pedir uns copos emprestados e quando a vizinha foi embora , a minha mãe se virou pra mim e o meu irmão e disse com ar de pessoa muito inteligente: "a Marlene é muito complacente, imagina vir aqui pedir copos emprestados. Que coisa”. Se a Judite gastava um pouco mais de sabão pra lavar a roupa, era porque “ela era muito complacente”; se o meu pai atrasava-se pro jantar, era “complacente demais”. Só faltava acender um cigarro e colocar uma peruca loura. Mas o meu pai não ia gostar, que “mulher que fuma é um problema” ele dizia sempre isso da prima Ernestina, quando ela vinha nos visitar a casa ficava muito “empestiada”, essa era outra palavra que minha mãe adorava. Empestiada podia ser tanto uma "fedentina" no recinto, quanto uma criança que era, uma peste, como eu.
Além de peste, comunista. Resolvi ir pro dicionário . Estava lá: “Comunista: doutrina ou sistema social que preconiza a comunidade de bens e a supressão da propriedade privada”. Danou-se, eu não sei o que é sistema social nem muito menos propriedade privada, eu só tenho onze anos.(...)"
-
terça-feira, 11 de novembro de 2014
CARPE DIEM!
“Todos imos embarcados na mesma nau que é o vento e todos navegamos com o mesmo vento que é o tempo; e assim como na nau, uns governam o leme, outros mareiam as velas; uns vigiam, outros dormem; uns passeiam, outros estão assentados;uns cantam, outros jogam,outros comem, outros nenhuma coisa fazem e todos igualmente caminham ao mesmo porto; assim nós, ainda que não o pareça, insensivelmente, imos passando sempre, e avizinhando-se cada um a seu fim; porque tu,conclui Ambrosio, dormes e o teu tempo anda." Pe Antonio Vieira
Cansei de brigar com o tempo: Aceito que ele existe, que ele passa, que ele é breve, que ele é ilusório, que momentos são mais importantes que o decorrer dele em si, que o futuro não existe, não tecnicamente. Ele é só uma miragem. Acho que encontrei uma fórmula breve, simples e digna, talvez eficiente, de enfrentar o desafio do tempo . Tento me apaixonar por cada pequenina coisa boa que acontece, acho que não tem outro jeito...
Sei, Sou obcecada pelo tempo, como os poetas árcades e os barrocos...
…Como John Lennon:
Before you cross the street
Take my hand
Life is what happens to you
While you're busy making other plans
…Como Gregório:
que o tempo trota a toda a ligeireza
e imprime em toda flor sua pisada ...
Viver é o melhor remédio contra o veneno do tempo...
CARPE DIEM!
domingo, 26 de outubro de 2014
Os chapéus , as árvores e a opção "inteligente"
Uma amiga querida acha ousado de minha parte
que eu use chapéus na rua com naturalidade, embora vivamos num país tropical e
eu ande muito a pé pelas ruas cada vez mais sem sombras.
Árvores são perigosas. Por isso, as cidades
agora estão trocando suas árvores por jardins cercados dentro dos prédios ou
nas calçadas deles, com plantas que são cuidadosamente aparadas e passam por um
processo curioso de poda sádica que as faz ficarem, exatamente do mesmo tamanho
para sempre. Como bonsais.
Dia desses, aqui em Niterói, uma árvore velha
desabou sobre três carros e acabou com eles, claro ninguém quer que uma coisa
assim aconteça com os carros, então, nada de árvores.
A cidade precisa dos carros, não das árvores...
rsrs
Voltando aos chapéus, li na internet que a sua
invenção remonta às caçadas e guerras provavelmente na Babilônia ou Grécia.
Isso, há uns 2000 anos a.c. Mas, apesar de sua antiguidade clássica, muita
gente ainda não percebeu que eles existem. Dia desses num sol de rachar, eu
observava as pessoas andando na rua com papéis na cara; com as mãos cobrindo o
sol; com jornais improvisados na cabeça procurando sombras andando coladas nas paredes,
o que era meio cômico, ao invés de usarem um simples chapéu, tão mais prático.
Brasileiros são fãs do modismo e preferem andar
com um ridículo jornal na cabeça a pôr um chapéu, porque aqui, todos precisam
primeiramente que alguém( a mídia, a moda) lhes diga que algo é bonito e
descolado pra que seja usável. Não basta que seja necessário.
Tudo é moda nesse lugar: a bicicleta, por
exemplo, é a nova moda dos “descolados”. E parece que , ao contrário dos chapéus que continua
sendo usado nas ruas apenas por exóticos
“ousados” ou turistas de “pele sensível”rsrs , já pegou a modinha.
Eu mesma trabalho num bairro de ruas largas em
que andar de bicicleta é seguro, bom e viável. Todo mundo o faz com naturalidade , dos velhos às
crianças. Eles transitam o tempo todo em bicicletas comuns, o que eu acho o
máximo. Não é coisa de clubinho nem de modista exibido, é algo natural porque é
possível naquele lugar e há muito mais bicicletas do que carros por lá. Mas, aqui...
O fato é
que já se veem cartazes espalhados pela cidade com o lema: “Troque o seu
símbolo de status por um de inteligência. Vá de bike”. Ok, se for possível,
irei de bike. O fato é que a maioria das pessoas, como eu, trabalha longe
demais de casa para ir de bike aonde quer que seja. E, a infraestrutura da
cidade pra elas deixa a desejar...
Dia desses voltando a pé pra casa das barcas, as
recentes bikes e bicicletas incluídas no trânsito sem nenhum preparo para
recebê-las(e olha que ainda são poucas!), atrapalhava não só a passagem dos carros , ônibus e motocicletas, como também dos
pedestres. Elas avançavam sobre as calçadas e ruas indiferentemente, competindo
o espaço livre (que não há nesta cidade) de modo alarmante.
Querer
espaço livre na hora do rush significa atropelar alguém ou ceder o seu lugar
pra ele e é exatamente isso que os
motoristas de bike esperam que os outros façam: desviem pra que eles
passem, (isso com 60 pessoas querendo
dividir uma calçada ao mesmo tempo).
Usam
aquelas buzininhas infernais no seu ouvido ao exagero, o que acontece, quase
sempre, quando eles já estão em cima de você praticamente. E, ai de você, se
não sair da frente deles...
Lembram bastante as mães sem noção (sim, porque
há mães dessa natureza) nas portas dos colégios e nas ruas com seus carrinhos de bebês enormes tomando
todo o espaço das calçadas, esperando que os outros andem atrás delas com
paciência de monge , ao invés de se afastarem educadamente um milímetro pra que
outros apressados possam seguir seus destinos de seres sem tempo algum...
Nesse dia ficou claro pra mim, que por enquanto
as bikes não passam de uma alternativa de modismo e uma maneira de se exibir
com um símbolo de status diferente dos carros e ainda tirando “onda de
ecológico”, quando a gente sabe que muita gente que anda de bike só tá querendo
é “tirar onda” mesmo e, de ecológico não tem
nadicas de nada. rsrs
Se vocês ouvissem o papo que ouvi nas barcas
entre dois adeptos do modismo, iam ver que isso é verdade. Eles não falavam de
uma maneira “fácil de se locomover”, mas como dois adolescentes envolvidos por
um brinquedinho-fetiche, eles falavam do
“valor” agregado daquela coisa toda: dos
apetrechos , do preço disso e daquilo, da necessidade dessa peça ou da outra, exatamente como falam os motoristas que eles criticam dos carros poderosos e
símbolos de status. Ué, mas era pra ser assim? Pois é...
E, nas barcas posso dizer que as bikes perigam
se tornar um absoluto transtorno. No
futuro, terão que criar uma barca só pra elas.
E até autoescola pra “usuários sem noção”. Ou seja, é todo um mundo a
ser aberto para o capitalismo selvagem.... eis aí um ramo para os empresários
de plantão!rsrs
Acho genial que um país como a China use a
bicicleta como meio de locomoção e que isso funcione por lá, onde já é algo
cultural e nada tem a ver com modismo, fetichismo, exibicionismo, egoísmo e
nenhum desses ismos. Não creio que seja o caso aqui em Niterói. É uma cidade
que não tem nenhum ajuste pra elas, tem um trânsito horroroso, pessoas demais
nas ruas, movimentação constante, motoristas ruins e muita gente se achando o
dono das mínimas calçadas... mas, vocês sabem, os adeptos de modismo não pensam no lugar onde
vivem, eles não querem nem saber...
Quando a moda pegar forte (e vai pegar, porque
como eu disse, o povo daqui não tem personalidade nem opinião própria) e começarem
os desastres dos ciclistas (que dirigem tão mal e tão arrogantemente quanto os
motoristas), não digam que não avisei...
Quero deixar meu ponto de vista claro, ainda
que seja polêmico(só pra gente besta que não gosta de pensar nas coisas rsrs), mas
aqui vai: gostaria muito que a bike
fosse uma solução pro trânsito aqui e agora , mas não acho que seja por
enquanto, até que prefeitos criem toda uma estrutura de acomodação pra elas e as pessoas se eduquem pra usá-las. Pois, ouso dizer que muitos que são maus
motoristas, serão piores em cima de uma bike...
O que podemos esperar, no momento é só mais
confusão no trânsito, mais coisas caóticas acontecendo pra se prestar atenção e mais acidentes.
Sejamos lógicos: para curtas distâncias, quem
vai de bike, pode ir a pé, sem precisar atropelar ninguém. É só comprar um bom
tennis e é bem mais barato rsrs.
domingo, 5 de outubro de 2014
A VIDA SECRETA DE WALTER MITTY
Vi uma
crítica negativa deste filme num site de cinema e outra positiva, num blog. Não
confio em blogs e por isso tenho um, claro rsrs. Mas , resolvi assistir ao
filme assim mesmo, primeiro porque adoro o
Ben Stiller, e segundo, porque adoro controvérsias.
Bem os dois
estavam certos ao mesmo tempo: o filme é bem bobo mesmo, desses que sobram
cenas hollywoodianas: exageradas, mentirosas, implausíveis. Num certo momento ele fica tão farsesco, que a gente pensa que o roteirista só pode estar
chamando a gente de idiota...mas é nessas horas justamente que o filme nos compensa
com cenas de tirar o fôlego , tal a beleza das imagens.
Sinceramente,
é um filme irresistível. O cidadão precisa estar muito mal com a vida, pra não
se emocionar com ele. Eu juro que chorei. É um filme emocionante e lembra como
o cinema pipoca às vezes é exatamente o tipo de filme que precisamos ou
queremos ver.
O sucesso
desse tipo de filme é como o dos livros de autoajuda: faz com que o cidadão
ordinário, comum , acredite que sua vida tem valor.
Se você
é como eu, e já viu alguém
comum , normal, morrendo e
avaliando a própria vida à beira da morte, vai perceber, como eu percebi, que
toda vida tem valor mesmo. Aquela história do grão de areia no oceano. E isso
não é nenhuma mentira... acho que eu
até podia pensar em escrever livros de
autoajuda baseada nisso, mas vou deixar essa tarefa pra outra pessoa...rs
De qualquer
maneira o filme funciona e mais ainda porque conta com a presença de Sean Penn,
que faz o fotógrafo Sean. É isso aí, ele quase interpreta ele mesmo rsrs.
A grande
sacada do filme é mesmo a ideia contida na “filosofia” do fotógrafo brilhante e
enigmático que diz ao encontrar um leopardo raro que se esconde nas montanhas do
Himalaia: “ coisas bonitas não precisam de atenção” . Ai, meu Deus, quanta
gente devia ouvir isto!!!
Ele espera horas pra fotografar o leopardo,
mas quando o animal finalmente vem e olha direto pra câmera dele, ele perde a foto, de propósito. Pra não perder o leopardo, ele perde a foto!!!
O Cristo apareceu bem claro então, com o sol por trás e
foi como se fosse uma aparição, uma
coisa mágica. Ficamos sem fôlego:
“Você não vai bater a foto?” meu primo
perguntou
Eu, que
fiquei tão besta olhando aquilo, não tive reação suficiente pra pegar a câmera
etc.
Falei
baixinho:
“Essa vai
ser revelada na memória.”
Nunca
esquecemos essa cena. Foi perfeita!!!!
Tanto que
nunca mais voltei no Cristo, tenho medo de estragar essa primeira experiência...
Eu também adorei aquele leopardo na lente do
fotógrafo que perdeu a foto e o filme me ganhou ali, para sempre!
terça-feira, 20 de maio de 2014
Spaghetti não é sopa
Da Série: Sabor e Humor
Paulo Tiefenthaler (que é Paulo de Oliveira) na real, comanda(ou comandava?) um quadro que eu adoro no canal Brasil chamado "Larica Total". É um pouco trash, um pouco hippie, um pouco “maluco beleza”, um pouco “sou de Santa Tereza , todo mundo sabe”embora até Claude Troisgros já tenha aparecido por lá, o que foi bem legal!
Paulo Tiefenthaler (que é Paulo de Oliveira) na real, comanda(ou comandava?) um quadro que eu adoro no canal Brasil chamado "Larica Total". É um pouco trash, um pouco hippie, um pouco “maluco beleza”, um pouco “sou de Santa Tereza , todo mundo sabe”embora até Claude Troisgros já tenha aparecido por lá, o que foi bem legal!
O programa
ajuda cozinheiros iniciantes a fazerem cachorro quente, arroz infalível
(segundo Paulo, aquele que você joga fora a água desnecessária e o arroz fica
perfeito! rs), panqueca, ovo frito, brigadeiro e outras gourmandices como essas, que ninguém sabe fazer, of
course...rs
Ora ,
ora...
Não é, que
alguns restaurantes deveriam aprender com o Larica?
Sim, porque
nesse Rio de Janeiro, algumas cantinas Italianas ainda não sabem que spaghetti
não é sopa!!!
Não estou
falando de cantinas italianas falsas, mas das que se julgam verdadeiras. E até
as garçonetes usam as cores da bandeira italiana no avental . Mais pitoresco ,
impossível!
O que
esperar de um restaurante que cobra 37,00 num prato de massa individual e se
diz italiano? Que pelo menos seja autêntico. Nada disso, o molho era uma água
vermelha que parecia feita de extrato de tomate e nem devia ser o da Elefante,
que , diga-se de passagem tem um gosto melhor do que aquele. A massa , podia
até se salvar , mas não estava” al dente” o que é imperdoável.O molho era tanto,
que podia-se dizer que o spaghetti boiava na piscina do Conde Drácula. E eu não
uso babador, sorry(que aliás nem vinha junto, era papel mesmo). E, só pra lembrar, na Itália o molho é um
acessório, a massa é a protagonista.
Mas aqui no
Brasil, onde cliente não usa babador, macarrão é sopa!
O frango,
que a cliente da mesa vizinha pediu e eu ia pedir, era só frango sem nenhum acompanhamento, com
cara de “não estou temperado” e o preço, ai, ai! Onde que brasileiro come
frango sem a batata, polenta ou salada?
A Itália não é aqui.Me poupe.Parece que estamos em tempos de guerra. Ou isso já é efeito da Copa? Vai
saber...
Pra quem
quiser saber onde é, pra nunca botar os pés lá, fica, ali pela Rua das Laranjeiras.E
mais não digo rs.
De outra
vez, eu e meu namorado fomos num italiano aqui em NIkiti que já faliu , graças
a Deus.Ficava bem pertinho do BarKana, metido a gourmet e cobrando o preço
disso. Teve a cara de pau de me servir
uma massa requentada no micro ondas (gosto inevitável que o meu paladar,
reconhece na primeira garfada), lotada de creme de leite pra disfarçar o mau
sabor. E aliás estava tão passado que queimava nas pontas. Nem esquentar a p. da massa no microondas , o
chef sabia!
Em outro,
eu e meus amigos quase tivemos que lavar
a louça ao final. Muito famoso, tão gourmezinho,
que se dá ao luxo de não aceitar cheque
nem cartão(tem um nome de mulher...rs), não sabíamos disto, mas, quando pedi ao chef
para mudar o prato e tirar o creme de leite da massa , o garçom disse ser
impossível, pois a massa ficaria “sem graça”. “Tudo bem, eu confio no chef”, eu
falei dando um crédito. E lá veio a massa, lotada de creme de leite(parece ser
o ingrediente coringa dos maus cozinheiros), mascarando os cogumelos, sem
gosto, pesado , totalmente ordinário.Um
pesadelo!
A
delicatessen que fica ao lado do restaurante e que serve a tão famosa massa
deste, uma bomba! Pesadinha, que cozinha de um lado e fica crua do outro mesmo
jogando numa panela imensa com muita
água , cozinhando tudo por igual! Minha ex-sogra que é descendente de italianos
faz um spaghetti milllllll vezes melhor. Joga na água e tá pronto . Sensacional!
Tão bom , que basta pôr manteiga e salsinha.!
Nunca mais
vou pagar pra comer massa de cantina italiana
de bosta!
Cozinha
italiana de verdade é assim: culinária de guerrilha.
Chegue em casa (pode até ser bêbado de dar dó), abra um pacote de spaghetti , compre gourmandices como cogumelos, alcaparras,queijos de vários tipos, tomates secos, frescos, ervas várias e invente. Vai ficar muuuuito melhor do que a desses restaurantes.
Cante bem
alto La Traviata, acorde os vizinhos. E manja que te fa bene!!!
Chegue em casa (pode até ser bêbado de dar dó), abra um pacote de spaghetti , compre gourmandices como cogumelos, alcaparras,queijos de vários tipos, tomates secos, frescos, ervas várias e invente. Vai ficar muuuuito melhor do que a desses restaurantes.
domingo, 4 de maio de 2014
POLIDEZ
(Relógio marcando 19:02 horas)
Senhora
D - Quero
cancelar o cartão da loja, vocês me mandaram uma cobrança indevida e...
Karina com K - Certo, senhora , para sua segurança e
comodidade esta ligação gera automaticamente um protocolo, pode anotar?
Senhora D - Ok.Anotado.
Karina com K- Certo, a
senhora pode estar me passando agora o seu CPF ou o numero do seu cartão, por favor...
Senhora D - (...)
Karina com k - Ceeerto, Senhora D, agora vou estar
confirmando os seus dados...
(Música)
Karina com K - Senhora, obrigada por esperar, eu vou
estar confirmando agora os seus dados...nome....um
momeeeeennto....identidade ...um momeeeeeento.... senhora, obrigada por
esperar...O seu endereço é rua (...)
(Música )
Karina com k - Um momeeeento...qual o problema , senhora D?
Senhora D - Eu quero liquidar o cartão, e como eu disse
a cobrança foi indevida, ... não sei que cobrança foi essa, pois eu não comprei
mais nada. Eu não vou pagar mais nada, eu já paguei tudo na loja , a vendedora foi clara. Eu estava liquidando
tudo. E agora vem esse boleto....
Karina com K - Ceerrrto...O
procedimento é este senhora: eu vou estar confirmando os seus dados, pra estar
informando ao sistema...
Senhora D - (cortando) ...o que ele já sabe. Você pode
me ouvir , por favor. Eu quero saber que cobrança foi esta.
(Música
interrrompendo)
Karina com K - Obrigada por esperar.
Senhora D - Querida, a gente não tá se entendendo. Eu
queria saber que conta é essa que vocês me enviaram se eu não comprei nada?
( Music
again)
Karina com K - Ceertooo senhora, um momento por favor.
(Música de
novo)
Karina com K - Ok, senhora D, é como eu lhe disse, eu tenho
que confirmar os seus dados pra estar informando ao sistema...um momento por
favor....certo, uma cobrança de 23,00.
Senhora D - 23????Aqui no boleto está 15,00 E eu nem sei
do que se trata.
(Música)
Karina com K - Ceertooo senhora, um momento por favor.
(Música de
fundo)
Senhora D- &$%^HGHFUT&T&#@
Karina com K - Houve uma queda no sistema, senhora. Mais um
momeeeentinho...
(Música)
Senhora D- Minha filha, você pode me ouvir por favor????
Karina com K - Sim, senhora , só um momeeennnnto, estou
enviando seus dados ao sistema...
(Música)
Senhora D - Como é o seu nome , querida?
Karina com K - Meu nome é Karina.
Senhora D – Tá, Karina, você pode me dar o seu sobrenome?
Karina com K - Meu nome é Karina. Karina com k senhora.
Senhora D - Ceeerrto Karina com K. Mas você tem um
sobrenome, certo? Por favor , querida, todo mundo tem um sobrenome, como é o
seu, eu preciso saber.
Karina com K - Meu nome é karina, senhora.
Senhora D - Ah, você não tem sobrenome, Karina com K?
Karina com K - Meu nome é Karina, senhora.
Senhora D - Olha aqui, Karina com K, eu vou processar
vocês...vocês são uma loja de merda....
(Musica interrompendo)
Senhora D- Eu....@#$**49765^**^^%$3
(Música)
Karina com K – Senhora D., estou lhe transferindo para o
setor de cancelamento de cartão.
Senhora D- Peraí,
eu já estou no setor de cancelamento de cartão,
não estou?
Karina com K – Senhora D, estou lhe transferindo...
Senhora D- Como é que é?
Quer dizer que eu estou aqui há meia hora ouvindo essa música ridícula e você não vai fazer o cancelamento?
Karina com K - Estou lhe transferindo, senhora, para o
setor de cancelamento.
Senhora D- Você pegou os meus dados e não vai fazer o
cancelamento?
(Música tocando)
Atendente SEM NOME- Boa noite, este atendimento gera
automaticamente um protocolo , quer anotar?
Senhora D - Não acredito. É o segundo protocolo.....(irônica) claro, pode
falar, minha querrriiiiiida, eu anotarei tudiiinho, tudinho...
ATENDENTE SEM NOME - Me passe os seus dados , senhora...
SENHORA D- Quero cancelar o cartão e mandar vocês todos pra merda. Olha aqui, eu já dei
os dados pra uma robozinha Karina com k, sem sobrenome que me atendeu e me
passou pra você ,eu não acredito que vou
ter que passar todos os dados de novo. Você jura que não tá bem aí na sua cara?
ATENDENTE SEM NOME - Senhora, o procedimento é este eu vou estar
confirmaaaaando os seus dados blábláblá.
SENHORA D - Quer
dizer que ela me passou pro vazio? Você não sabe nada de mim? Eu já entendi. É
uma prova de resistência....a maratona do cancelamento do cartão.Não tem
problema....eu quero ver até onde vocês tem coragem de ir...
Atendente SEM NOME- O seu CPF , por favor...
(...)
Atendente SEM NOME- Um momeeentto. Nome...um momeeeento...O seu endereço....um
momeeeennnto...
(Música)
Atendente SEM NOME- Obrigada por esperar, houve uma caída no sistema...
SENHORA D- Sei a
caída do sistema...no problem, eu tenho todooooo o dia, imagina. Você pode me
responder uma pergunta? Na loja me
disseram que ele era automaticamente
cancelado depois de dois meses sem uso...
Atendente SEM NOME – (cortando) Vou estar indo verificar,
senhora, um momeeentooooo, por favor. Obrrigada, por esperar...
(Música)
Atendente SEM NOME- Mais um momeeeennnto. Obrigada, por esperar ,
senhora . .....isso foram juros que geraram...há uma taxa de aproximadamente
30,00.
SENHORA D- 30, 000?????
A Karina com k, tinha dito 23,00. E esses juros foram pagos quando eu fui na
loja e liquidei o cartão, a informação que me deram foi outra.
Atendente SEM NOME- A loja é uma coisa senhora, aqui é o cartão.
SENHORA D - Ah, ta,só pra eu entender então , vocês não são o cartão da loja?Então, onde eu comprei? Quero saber, porque eu
acho que estou ficando louca. Quando eu fiz o cartão pensei que estivesse
fazendo o cartão da loja tal e não de
uma entidade anônima, que fala através de robôs. Quer dizer que eu pago um valor pra loja e um pra vocês e a vendedora
tinha uma informação errada, é isso que você tá me dizendo?
Atendente SEM NOME - Senhora , eu estou dizendo que aqui é o
cartão...e lá é a loja!
SENHORA D - Sim , mas eu já paguei tudo quando fui lá e você ta me dizendo que eu tenho que pagar uma
conta duas vezes é isso o que eu entendo e que vocês são um cartão de uma loja
que não é o cartão da loja exatamente......que eu tenho que encerrar duas vezes
o samba de uma nota só, é isso que eu estou entendendo .Quanto é mesmo a dívida
que não existe? Que vocês inventaram?
Atendente SEM NOME - Senhora,
eu disse aproooooximadamente.
SENHORA D - Aproximadamente?
Você acha que isso alivia o erro de vocês? Não, não, você
pode , por favor, me dar o valor exato.
Atendente
SEM NOME- Senhora , eu disse o valor
aproximado.
SENHORA D - Querida
, isso é surreal. Vocês cobram, mas no boleto tem um valor, a Karina com k, me
disse outro e você ta me dizendo outro, aproximado....quer dizer que vocês
cobram, mas não sabem quanto é a
divida? Vou facilitar as coisas pra vocês, quanto está aparecendo aí pra você
,na tua tela, você pode me dizer pelo
menos isso, o que você está enxergando na sua frente?
Atendente SEM NOME- Um momeeennnnto por favor....
Atendente SEM NOME - (rápida
,veloz feito uma bala, lendo uma tela ,
com sotaque paulista do interior acentuado)
Senhora,
o juros aproximado é .....blablabla...por isso o valor aproximaaaaaaaaaaaaaaado
é de 30,00...
SENHORA D - Você
pode falar devagar eu não tô entendo tão bem o seu sotaque paulista...
Atendente SEM NOME (ofendida) - A senhora nunca ouviu um sotaque
paulista?
SENHORA D - Ah, agora você tá interagindo oficialmente comigo?A
gente pode por favor, voltar pros juros... pois, agora , eu estou interessada nos juros.
Atendente SEM NOME - (com
voz irritada) A senhora nunca ouviu um sotaque paulista?
SENHORA D - De novo?
Isso te ofendeu? Se você falar bem devagar eu acho que eu consigo entender, sim.
Atendente SEM NOME - (irônica)
Ceeeerto, eu vou falar bem devagar ....o seu juros....blablabla...estou falando
bem devagar, pra senhora?
SENHORA D - (irônica) Tá , tá sim , querida, continue assim, ótimo,
isso mesmo, fale bem devagar , que eu tou entendendendo tudinho, tudinho ....tá óoootimo....
Atendente SEM NOME –(irônica) Blá blá
blá... Estou indo pra confirmar devagar, senhora? Confirma o cancelamento do
cartão?
SENHORA D - ( putaça da vida) Confirmadíssimo...você tá
sendo muito educadinha mesmo, só mais uma coisa, me anotem como persona non grata , esqueçam o meu endereço e não me enviem nunca mais um
boleto de cobrança, seus bostas, seus merdas!Eu quero que essa loja vá pra aquele
lugar onde o sol não bate e VOU ESTAR INDO
MANDAR o meu cachorro c...na porta da
loja de vocês.
Atendente SEM NOME – Confirmando o cancelamento do cartão
então, senhora D. O seu cartão foi cancelado com sucesso!Obrigada por nos
contatar. Tenha uma boa noite.
SENHORA D - (calma) Boa
noite pra você também, minha querida.Você foi muito útil. Passe muito bem!
(Relógio marca 20:46)
sexta-feira, 18 de abril de 2014
DA SÉRIE : "Fora da Gaveta"
Pra eu aprender
Hoje quando acordei Eloise já tinha saído, é verdade
que ela disse que iria trabalhar bem cedo, lógico que eu não acreditei, mas o
fato de eu acreditar ou não, não muda o essencial: ela se foi sem um bilhete,
sem café, se bem que, não devia ter pó de café, porque ela, que gosta de café e
eu não, sempre se esquece de comprar, diz que eu deveria, mas não lembro de pôr
na lista porque só gosto de chá e mal passo pelo lado do mercado onde fica o
café, se bem que “é bem do lado” ela me disse uma vez e achei muito arrogante
porque é um fato que Eloise é arrogante, mas isso não modifica em nada o fato
de eu amá-la, arrogante e talvez um pouco grossa, me lembro do dia em que fomos
levar o pai dela no aeroporto e ela ficou de mal humor o tempo todo, ela dizia
que já estava “de saco cheio do velho em sua casa”, sim era assim mesmo que ela
falava do próprio pai e queria “despachá-lo logo”, falava isso rindo, mas eu
achava bem estranho, logo depois ela mordia a minha orelha daquele jeito que
ela faz que eu fico bem louco, então logo estávamos girando na cama como dois
bichos, porque ela me faz ficar selvagem, mas naquele dia no aeroporto eu vi e
olhava pelos cantos dos olhos pois estava constrangido, o pai dela ali com
lágrimas nos olhos, ele era um senhor bem sentimental, mas ela dizia que isso
era um saco, ela dizia assim mesmo “é um saco” e sublinhava “saaaco” pra eu
entender direito porque Eloise diz que eu nunca entendo as coisas direito, já
brigamos muito por causa dela dizer isso de mim, quer dizer ela briga, eu não,
eu fico olhando ela brigando comigo e esperando tudo passar porque ela me
assusta nessas horas , quando os olhos verdes dela ficam mais verdes e vão
criando uma chama negra no fundo que são pra mim como uma sombra do inferno, então eu posso ficar esperando qualquer coisa,
na maior parte das vezes ela lança um objeto qualquer que tenha nas mãos, uma
vez foi na cama logo depois de fazermos amor e não sei como ela teve energia
depois de tudo o que tínhamos feito, mas
ela arremessou o meu cinzeiro de cristal contra a porta do quarto, esse
cinzeiro foi minha mãe que me deu, eu nem fumo, mas mamãe dizia que toda casa
tem que ter cinzeiro “pras visitas”, eu tive que dar explicações depois do
sumiço do cinzeiro e não foi fácil, tive que dizer que um dos meus amigos
escondeu-o “de sacanagem”, só que essa desculpa foi ruim porque mamãe ainda
espera a volta do cinzeiro, sempre pergunta: “E devolveram o cinzeiro? Será que
foi o Renato? O Zé? Não deve ter sido o teu chefe, não é? ”, por isso, até hoje
eu ando atrás de um cinzeiro igual pela cidade, toda vez que passo em frente a
uma loja de cristais eu entro por causa desse cinzeiro, uma vez Eloise estava
comigo e quando eu falei que ainda procuro o cinzeiro, ela disse que eu sou “um
idiota”, ela disse assim mesmo e ainda repetiu “você é mesmo um idiota” , nesse
dia eu fiquei muito puto mesmo com ela , peraí,
também já é demais chamar alguém de idiota, não lembro de ser chamado
assim desde a sétima série quando eu era goleiro do meu colégio, o Santa Izabel,
mas o Renato que foi beber comigo nesse dia me disse pra eu não levar à sério
“a Eloise é assim mesmo, é o jeito dela”, mas o Zé acha que não , acha que eu
não posso deixar isso acontecer, eu sei que não posso, mas quando eu vejo ela vem de coisa e tal
comigo e vamos num cinema e começa a me chamar de “amor” , e me chama no apartamento dela e me recebe de
cinta-liga, me joga no sofá e me manda
assistir, ela fala assim mesmo: “assistir”, então ela fica lá dançando , liga a
vitrola, eu adoro vitrola e ela tem uma , ela coloca a trilha de Blade Runner,
Chet Baker, Miles Davis, e fica lá, os olhos verdes me hipnotizando , ela nunca
me deixa levantar , nem interromper o “número”, ela chama de “número”, mas ela
nunca tira a roupa ora merda, eu fico explodindo , uma vez ela até prendeu os
meus braços com umas correntes grossas , eles ficaram vermelhos uma semana ,
ainda bem que eu trabalho no fórum de camisas de mangas longas, porque senão ia
ser uma gozação, mas pior foi o dia que ela pegou uma foto da minha ex-namorada
numa gaveta, além de fazer eu rasgar , ficou uma semana sem falar comigo ,
disse que era pra eu aprender que eu fui um menino “muito cruel”, foi horrível
porque o apartamento dela estava pintando e ela está até agora “passando uns
dias comigo”, no início sentávamos juntos e eu falava “passa a salada” e ela
ficava lá olhando o laptop e me ignorando, acho até que acessou a conta de vários ex-namorados pra me
provocar e quando eu dizia “vamos conversar” ela lançava os olhos verdes na
minha direção e parecia a minha professora primária quando eu molhava as
calças, que tive esse problema até os oito anos, então ela ia tomar banho e
deixava a porta aberta, ficava cantando e dançando e passando sabonete, mas eu
não podia entrar, ela dormia nua do meu lado, mas não me deixava tocar nela,
foi horrível e um dia até ela sumiu com o meu cachorro, ela odeia o meu
cachorro eu tenho certeza, embora ela não admita, ele voltou dois dias depois
todo machucado pra casa, deve ter apanhado muito de outros cachorros mais
espertos, que ela acha que o meu cachorro “é um bobão”, ela diz assim mesmo,
que ele é “um bobão, o Peter é um bobão”, mas foi o Peter que mordeu ela, mesmo sendo bobão e ela gritou
muito e fez um escândalo mesmo tendo sido só um arranhãozinho, mas eu sei
também que foi o Peter que fez ela sair
cedo sem café hoje, ele late sem parar quando acorda e ela não aguenta, ela
disse ontem a noite “eu vou matar esse cachorro” e depois riu pra fingir que
não disse o que tinha dito, mas ninguém mexe com o Peter, ela disse ainda:
“amanhã cedo vou trabalhar”, é mentira , eu sei que ela não foi trabalhar, ela
foi demitida, foi o que o Renato falou , ela não me contou mas o Renato sabe, porque ele trabalha na mesma empresa, como eu disse, o Peter não suporta a Eloise,
então eu resolvi , fiz as malas dela e agora vou ao mercado comprar chá, e
comida de cachorro.
PS - Estou chamando de "Fora da Gaveta" todo trabalho literário que eu publicar aqui a partir de hoje, seja poesia, conto, pedaço de conto , trecho de romance, cena de teatro etc...
sábado, 22 de março de 2014
Da série Rio pra inglês não ver (A louca da van)
Atrasada de novo e uma van me “resgata”. Tento pagar no início, o que é
o certo e está escrito na porta de todas as vans cadastradas, mas a cobradora não
recebe. Diz que “só depois”. Logo que entro sou quase arremessada para a porta
numa arrancada fenomenal do motorista. Seguro firmemente o apoio de banco que
já está meio capenga de tanta mão que passou por ali tentando se segurar dos solavancos
e a cobradora, confirmando a impressão que tive sobre ela, de uma carioquice
macunaímica, me diz:
- Isso mesmo, moça, segura mesmo, que o piloto é louco- e ri feliz, como se isso fosse uma grande vantagem da sua
van.
E ainda completa:
- Guarda bem a cara dele, cabeça branca, moreno.
Deve ser o marketing dela para: “volte sempre” ...
No Rio é assim: motorista é “piloto”, e, convenhamos, a julgar como “voam”,
é justa a denominação.
A van segue a toda. A viagem é completada pelas histórias da cobradora,
que resolveu repassar toda a sua vida aos estranhos. Teoricamente, é para o
piloto que ela o faz, mas, do jeito que fala alto e espalhafatosamente, é
impossível prestar atenção em outra coisa.
Conta suas peripécias na escola adventista de Caxias onde: “as menina usava (a concordância verbal
era essa) a saia dobrada, merrrmo”, mas ela “não podia”, então ela se vingou “tacando
cabeça de nego no banheiro” e explodiu o vaso e tudo. O quanto xingou e foi
suspensa, quando encheram de tachinhas a sua cadeira, etc, etc. Ela contava tudo isto rindo, orgulhosa de si
mesma.
Passageiro vai, passageiro vem, ela solta pra um no meio de uma das suas
histórias escabrosas:
- Mas...esse cara que tava a fim
de mim no meu curso, era coroa já que nem o senhor....
A cara do tal “senhor” foi de causar compaixão. Ele, que até já estava
se engraçando por ela...ser chamado de coroa sem dó deve tê-lo brochado
completamente.
E solta pra outro, que pergunta onde fica determinado lugar:
- Sei lá onde é isso, não sei nem onde eu moro.
Quando a maioria dos passageiros já tinha descido (mas eu ainda não) ela
diz, de repente, a mulher dos grandes instintos:
- Eu estou é com vontade de brigar com alguém, tô louca pra brigar, tem
anos que eu não brigo.
Então vieram, rápidos, os relatos de violência “inocente”: Uma mulher que
tomava remédios controlados bebeu muita cerveja e cismou com ela num bar “assim
do nada”, então ela pegou “um litrão” (o que seria isso? fiquei pensando). Mas
não podia pensar muito porque ela vomitava as palavras, enfim a tal mulher
cismou com ela e partiu pra cima. Ela não deixou por menos, com o litrão ameaçador
nas mãos, no que o dono do bar recorreu:
- Não atira o litrão, não faz isso não, você vai se arrepender...
E a mulher partiu com tudo pra cima dela, rasgou a sua roupa e ela ficou
lá, com a quase nudez.
- Graças a Deus, que eu estava com um soutien direitinho de oncinha. Foi
isso mesmo Marcão, eu cheguei em casa com a blusa rasgada, com o soutien
aparecendo – ela contava pro motorista.
Depois engatou numa historia de uma inimiga que:
- Porra, ela tava tomando banho na minha casa, não tinha nem casa pra
tomar banho, porque brigou com a família, dormir eu não deixei, mas ela tomava
banho todo dia lá e me fazer isso!?!?!
O Marcão pondera:
- Ela é legalzinha.
- Legalzinha???? Legalzinha é o c...ela foi tentar fazer fofoca com o
meu homem. Ah, não prestou...eu fiquei louca. Tentei pegar uma faca, me
tiraram; tentei uma lâmina, não deixaram, arrumei um pedaço de pau. Batia na
minha cintura o pau, cheinho de farpa.Fiquei na esquina esperando.
(E, nessa altura do relato, ela fez suspense. Cheguei a imaginar a
música da pantera-cor-de –rosa...)
- Ela voltou, eu passei o pau na
calçada e perguntei: Vem cá tu foi falar isso, isso e isso pro Flávio?
(Notem o pronome "isso"...)
- Eu não...
- Foi a Patrícia que falou que tu queria falar pra ele que eu fiz isso,
isso e isso.
- Eu não.
Eu passei o pau de novo na calçada.
- Eu vou repetir eu acho que tu não entendeu....é verdade que tu falou “isso”
pro Flávio?
(E o pau comeu, como vocês podem imaginar.)
Ela ainda disse:
- Eu me atraquei com ela queria marcar a cara dela. Vagabunda tem é que
ficar com a cara marcada!!!
O Marcão a essas alturas já parecia assustado e eu, no meu eterno
delírio literário pensei em Nathaniel Hawthorne( A Letra Escarlate), livro que
me impressionou muitíssimo...”vagabundas tem que ser marcadas, vagabundas tem
que ser marcadas”, a frase martelando na minha cabeça...
Ela continuou, enquanto eu delirava com o relato:
- Mas ela deu sorte a filha da puta, passou um motoboy. Ela pediu socorro
e sumiu. Dia desses, ela tava no mercado com uma lata de leite e um neston,
quando ela me viu, largou o leite e o neston pra lá e saiu correndo...
E riu.
Depois começou a contar de quando bateu numa mulher com um "vestido longo
vermelho" que deu em cima do “homem” dela, mas era o meu ponto e não pude mais
ouvir historias tão românticas e angelicais...
Desci.
Eu que escrevo pacientemente ficção, às vezes fico pensando: quem
precisa de personagens numa cidade como essa?
Marcadores:
# van,
a letra escarlate.,
cobradores de vans,
marketing "volte sempre",
motoristas loucos,
Nathaniel Hawthorne,
rio de janeiro
domingo, 16 de março de 2014
Rio pra inglês não ver (O sono dos mendigos)
Engarrafamento. A mulher, no ônibus ao meu lado,
tem as unhas pintadas de roxo. É uma cor bastante estranha para as unhas, mas
os obstinados nunca desistem das modinhas. Tal qual os motoristas obcecados por
buzinas estridentes, basta uma parada de um minuto e lá se vai a sinfonia adoentada. Olho pra trás
e é um carro grande com um motorista sozinho, pra variar. Os homens são mesmo
muito estranhos , não desistem dos seus
carrões, nem mesmo quando eles respondem por sessenta por cento do
engarrafamento do qual querem se livrar, é como um gordo que tendo que
emagrecer, comparece toda semana à confeitaria. A consciência é algo que o
conforto não compreende...
Sinal verde. Atravesso a rua, subitamente
feliz, só porque não tive que esperar pela passagem intoxicante dos ônibus e
carros na minha cara e minha alergia agradece. Nunca fico curada.
As pessoas não olham ao redor, mas eu, porque
decidi que olharia, que faria este blog, cujo pano de fundo é esse Rio que
ninguém nunca vê; ou se vê , não se deixa atingir, olho. Um mendigo. Está sem
camisa e tem o corpo todo tomado por uma grossa camada de poeira incrustada,
como uma segunda pele. Sinto pena dele. Ele parece louco ou bêbado, mas são
apenas seis da manhã.
Mais à
frente, um pivete vai andando com os pés enfiados num tennis de marca, no
mínimo dois números acima do seu, também carrega uma mochila “descolada”, que
parece vazia, nas costas. Os tennis saem dos pés a cada passo que ele dá , o que
lhe dá um ar cômico, mas mesmo assim ele
parece orgulhoso e confiante. Quando subo a passarela e olho pra baixo , vejo
que ele tenta se juntar a outros três pivetes conhecidos que batem ponto ali
todo dia, os outros não lhe dão muita bola, os outros estão descalços. Mas ele
continua tentando falar com eles. Tento ver o que acontece em seguida, mas sou
empurrada pra frente e meu olhar
encontra uma cena triste: um homem e uma adolescente dormem no chão da
passarela imunda, as cabeças se tocando. De perto, vejo que eles parecem pai e
filha e ela, embora tenha no mínimo uns dezoito anos, está com uma chupeta rosa na boca. A cena é
chocante e, mesmo não tendo tido coragem de bater uma foto, a imagem não sai da
minha cabeça.
Passo
pelos estivadores com meus óculos gigantes de hastes vermelhas e ouço um deles,
falar: “ Olha só, essa só pode ser francesa, porque por aqui, não se vê
isso”.Quase rio da piada, mas, entristeço de novo quando no ponto de ônibus um vagabundo conhecido, vem
até o camelô que lhe dá o habitual biscoito e depois o enxota como se ele fosse
um bicho. Todo dia ele dá um pacote de biscoito a esse mesmo vagabundo que
chega cheio de marra exigindo o seu “café da manhã” e depois sai humilhado.
Estranha transformação...
Os ônibus
aproveitam a parada dos outros ônibus
para passar direto pelo ponto fingindo que não veem os passageiros que ficam
fazendo sinal em vão. É por isso que as pessoas amam os seus carros. Essa
cidade é a zorra, a lei do cão, o “salve-se quem puder”.
Na volta pra casa durmo copiosamente dentro do
ônibus, chego a babar literalmente esgotada de tanta miséria, de tanta
estupidez, de tanto cenário triste.
Custo a acreditar quando acordo e vejo uma
sombra deitada no chão ao sol do meio dia. Estou falando de um canteiro de
obras em frente à rodoviária. Ponho os óculos e vejo que é mesmo um homem que
dorme naquele chão duro. Trinta
metros depois, mais três mendigos dormem ao sol escaldante, esses com cobertores velhos, deitados na poeira
imunda, cada um com o seu. Mais à frente
o irônico cartaz do prefeito diz: “Desculpe
o transtorno. Estamos construindo uma cidade melhor!”
Daqui até o início dessa copa controversa,
farei uma série de crônicas intituladas: “ Rio pra inglês não ver”
Não quero esgotar mais meus eventuais
leitores...fica pra próxima!
Assinar:
Postagens (Atom)