quinta-feira, 23 de abril de 2020

Da série "Fora da Gaveta": As peles dos animais


AS PELES DOS ANIMAIS

Daniel,
um pássaro...

Olívia,
leite de tigre.

A matéria formosa de Rosa.

Essas dulcíssimas tempestades da chuva são os olhos de Francisco, serpentes.

A tarde eternizada,
as memórias de flores de Paulina, as muralhas, as borboletas...

Longe, longe, uma pérola rebrilhando no ar: Simone,
animal respirando.

A primeira vez que eu vi Teresa entendi que era melhor morrer do que viver sem ter sentido a condolência. Teresa, uma pele de brilho azul, galvânica, um pavão,  os deuses enlouquecidos davam bom dia, os reis se levantavam dos túmulos pra governarem mais uma vez, toda a estratosfera regredia a um nível de átomo primeiro, um veneno intenso marcava a tarde suada da terra e o sol, recolhido,  cobria as catedrais daquele branco gótico e envelhecido por dias transparentes , imorais.

A terra secava. Os pés de Teresa. As catedrais vazias. As almas condolentes.

Não vou te dizer que eu te adore, Augusto, isso que eu sinto é só uma confusão que eu nunca soube dar nome, é espírito, matéria voraz de nada, alguma coisa que é outra coisa, algum juízo indefinido de moral duvidosa, angustiada, só quero te dizer, entre as telhas, os ventos, as folhas que caem dessa bananeira dessa casa estúpida e antiga que já te guardou, que já me guardou e que não guarda ninguém,  é que eu te amo, assim,por um momento, exatamente esse agora que você me olhou porque você não presta, porque você é um cafajeste sem sentimento e não essa pessoa assim cheia de tantas cores e tantos medos e tantos impulsos irracionais, esse que me estende a mão, todo tigre  , que me toca os joelhos por baixo da perna, esse, que se me avizinha no escuro, debaixo da luz, esse que molha a boca na língua e me vê na semi-escuridão , que me diz : “eu fiz pra você”.

Eu te guardo: Giorgio. Pombo.

Assim: desde que as ruas abriram esses caminhos felinos, que as pedras fizeram marcas nos tijolos, que as britadeiras quebraram os ferros do assoalho, que o cimento se apossou da terra, que os sabres depositaram cascalhos sobre a relva e a massa se apossou dos muros da noite e a fumaça fria  foi subindo pelos cantos das paredes,  eu fiz uma oração pra não esquecer o teu nome...
Esse, que eu não ouso dizer...

Eu não te envenenei, Nara- onça.

A hora passa atordoada, Carolina: abelha –roxa, caracol amarelo.

rápido PT urgente mistério a ser resolvido PT longa noite insone outra vez PT aguardo tua resposta, Aldo.

Há tantas cores nos girassóis, Vincent,
que os pássaros morreram incendiados...

Marcos,
Nem adianta disfarçar nem pirar, os leopardos fogem pra floresta, é certo que o sol vai brilhar amanhã, let’s play again, let’s do that, so twists again, like you did last year, do you remenber....

Round and round and round again,
So baby you let me soul and than…

Não gostei do tom, Giovana raposa,  olha que eu sou muito paciente, mas isso já foi demais...

Eu sempre vou te amar, Clarice, você, a chuva e esse silêncio de um som de pomba pequenino batendo na janela até quando chega o anoitecer e o céu desce violeta e cinza às vezes, por que não?

Leda, um cisne
                passando...

Henri: cachorro, ele não prestava. Claro, com um nome  desse. ...

Tomás é para sempre o nome de um sonho alado que tive em algum lugar que não me lembro mais se estava nele ou se lembrei de uma vida que tive ou terei...

Fernanda, o meu eterno girassol dourado.

Lorenzo,
        uma nuvem...



PS - EXPLICAÇÃO AOS MEUS AMIGOS: Talvez alguns nomes aqui deixem alguns pensando que todos esses existem, já que conheço Teresas, Augustos, Clarices etc. Não. Obviamente alguns nomes aqui são eles mesmos: Daniel é o Dan , Fernanda é Fernanda, Marcos é o meu primo mesmo, Augusto (não é o da banda,por favor! rs Foi apenas um nome que me veio há muito tempo quando escrevi esse poema, pensei em trocar, mas um poema é sempre como foi concebido!), Paulina e Francisco, sim são os meus avós maternos; ; Carolina (de novo, é apenas a da janela, a do Chico Buarque); Teresa  foi inspirada num poema de Murilo Mendes, é uma intertextualidade;Giorgio, foi meu amor de infância, que não se chamava Giorgio...rs; Vincent (é o Van Gogh mesmo!); Clarice (é a Lispector) a escritora ;Tomás é um personagem que me obceca e que sempre reaparece quando escrevo algum conto(ele tenta ficar por ali...rs) mas, faz parte de um conto que JAMAIS consigo terminar;  Aldo foi um amiguinho de infância que morreu muito novo, meramente metafórico e os outros também são só metáforas construídas(aliás, TODOS ELES e essa explicação é totalmente inútil, mas que jeito!...rs) ; e Lorenzo, que eu penso que representa o meu futuro , se eu tiver algum...