quarta-feira, 20 de abril de 2022

Cultura woke, Super- Heróis" , "O Senhor dos Anéis", morar na África e outras bobagens.

A jovem cultura woke  que mal acabou de "sair dos cueiros", da maioria dos meus alunos (portanto    com quem tenho que    lidar infelizmente), muito farsesca, insegura,  de baixa auto estima, que não consegue lidar com o diferente dela mesma, especialista em se apropriar das coisas , corrigir, rasurar, modificar e agir como se o mundo  tivesse  surgido ontem , fica nervosinha quando mexem  com alguma coisa que lhes é cara...

Ah, que coisa, né, como diria minha avó,”pimenta só arde no...”, vcs sabem ...

Estou falando de uma polêmica que vi num canal nerd do Youtube, de quadrinhos, em que alguém discutia como os wokes ficaram irritadiços porque mudaram uma super-heroína que eles gostavam no cinema.Eles ficaram possessos, quel domage! Como não conhecia a história, não me lembro o nome da heroína e muito menos o nome do canal. Tratava-se dessas bobagens que a gente assiste pra aliviar a cabeça. Mas, não foi nada de mais.

Foi algo parecido como quando , em 2005, lançaram o filme  "Constantine" com  Keanu Reeves (aliás, eu o adorei naquele papel!), mas não os fãs originais, pois o Constantine original, segundo o seu próprio autor,  foi inspirado no Sting da banda The Police....rs

Ora, é trocar seis por meia dúzia . Os dois são carismáticos e ótimos artistas, sendo que Sting é músico e não ator. Mas não faz muita diferença, sinceramente. É só uma questão de hábito. Porém, fãs são inflamados. Veja os de Anita, não se pode falar um pio sobre os trambiques dela para ganhar views no Spotify. Calada, sua besta, não se atreva!rssrss

Agora os fãs de Tolkien estão irritados com a versão que a Amazon lançou ou vai lançar ainda (sei lá) para “O Senhor dos Anéis” , via série.

A imprensa que adora a cultura woke já fez artigos (aqui e no mundo inteiro) chamando os fãs de racistas, um xingamento que não significa mais nada nessas alturas dos acontecimentos, porque a palavra banalizou-se por demais. 

E , sim, lógico, o único motivo pelo qual os fãs de Tolkien não compraram a ideia da série , só pode ser o racismo, claro. Alguém aí tem dúvida? Não passa pela cabeça de ninguém da imprensa que Tolkien é um clássico que não deve ser modificado e que fãs são absolutamente nojentos...rs. 

Nunca mexa com um fã. 

A representatividade no cinema é um caminho sem volta. E é maravilhoso que isso aconteça porque precisamos de bons atores  e é ridículo nos  limitarmos a Brads Pitss de Hollywood e , claro, temos sim que combater todas as coisas nojentas como o racismo. Isso, os fãs devem entender e outra coisa que quem deve entender são os fãs da representatividade,  é que não se pode fazer isso com qualquer história.Ninguém quer ver uma Capitu que não seja aquela que Machado descreveu ,  com aqueles olhos etc, ou um elfo azul e um Hobbit gigante ou coisa que o valha. Se o cinema insistir nisso, vai perder bilheteria, como já está perdendo, aliás. Só as coisas autênticas sobrevivem. 

Pense , por exemplo no cinema de Woddy Allen. Por que é tão bom? Justamente porque ele escreve sobre o universo que ele conhece(um ponto que bons escritores sabem que é o único possível- ninguém consegue expressar aquilo o que não conhece) , a de um homem judeu, de New York, com aqueles dramas edipianos clássicos, por isso é engraçado e genial. Se ele tentasse descrever a vida de um novaioirquino do ponto de vista de um chinês do século passado ou do ponto de vista de um negro de New Orleans, aí é que seria ridículo. E é isso o que essas pessoas tentam fazer! 

Sou fã de Tolkien também, mas não fanatica, embora já não tenha gostado da primeira versão para o cinema. Saímos irritados eu  com o meu primo na época, porque quem leu o livro não fica satisfeito, JAMAIS com um filme de Hollywood, salvo raras exceções, como “Orgulho e Preconceito”, em que o filme é tão exato e fiel, e com uma direção de arte tão maravilhosa,  que as vezes eu penso que é melhor do que o livro...

Não sei se vou assistir á série . Não gosto que mexam em clássicos. Clássicos pra mim são intocáveis. Odeio releituras de Shakespeare , por exemplo. Pode haver exceções, mas tão poucas que não compensam a mudança. Talvez num dia de tédio, em que não faça diferença se estou viva ou morta, eu acabe dando um crédito...rs. Afinal , sou curiosa. 

 E lógico que os wokes não ficarão felizes até mudarem toda a história dos clássicos, retirando os anões da Branca de Neve, e tudo o mais.  Aliás a polêmica dos anões já aconteceu , se você não viu , está por aí na internet.  Não sei por que ao invés de mexer com as histórias que já estão escritas, eles não escrevem as próprias. Ou falta imaginação pra essa galera?  Para mim, afinal , é disso que se trata porque as versões são tão horriveis, tão deturpadas do que escreveu o autor original que perde todo o sentido,  já não é mais a mesma história.

Eu tendo sempre a encarar como uma paródia, porque , para mim, é a única maneira de suportar um clássico estragado.

E , na realidade, não estou nem aí se mudaram o Homem Aranha, se as crianças não acreditam mais no Papai Noel, se a Branca de Neve não vai ter mais a companhia dos sete anões, se vão mudar a Bíblia, se vão reescrever Homero...estou preparada para um Fahereint e vai ser  em breve. 

Lido com esse povo alucinado todo santo dia, já tô calejada...rss

Gente madura não tem paciência pra essas coisas, ademais eu penso “eu vou deixar essa merda deste mundo mesmo, então, que se f, quem vier depois que se vire...”, deixa essa juventude inculta achar que estão com tudo...rs.

Até pego o guarda-chuva para me abrigar dos respingos da merda e apreciar a “paisagem revolucionária”...é algo bastante comovente e instrutivo, devo confessar.Algumas vezes, volto pra casa até chorando, juro.  Penso que a maioria deles não faz ideia do mundo que estão construindo...

Como a maioria não tem senso histórico e os currículos enxugaram tanto que o curso de Artes Visuais , por exemplo, começa no Modernismo (oppps! É isso mesmo que vocês ouviram...), a Literatura começa com a “Carta de Pero Vaz de Caminha”, como se Camões e todo o resto que veio antes nem existisse...respeitar  os clássicos ou entendê-los nem passa pela cabeça dessas pessoas, que pensam que a literatura nasceu com J.K. Rowlling ( aliás, esqueci que esta  aqui também já foi cancelada!). J.K Rowlling é muito clássica pra eles...rs

E nesse desrespeitar e desconhecer a história são como cegos acrobatas tentando equilibrar um mundo sem passado, sem erros ,todo passado à limpo, porque a sociedade mudou, segundo eles, e não precisa de passado, o futuro é tão lindo, tão sem preconceitos dizem as sombras da caverna de Platão dos que a habitam....

Só esqueceram de contar pra eles que  um arquétipo nunca muda e  nem os  seres , os sentimentos humanos, e,  a não ser  na base da porrada e da falsificação, via IA ou métodos em andamento  como reengenharia social, ainda são humanos, demasiado humanos, sempre serão humanos, até que se prove em contrário...

Mas, não fiquem tristes, wokes, a desumanidade TAMBÉM está a caminho, vocês venceram, de tanto amar os robôs , vocês se tornaram como eles, sem emoções, sem reações, sem vontade,  insensíveis,depressivos e dependentes, cópias de cópias.... exatamente como vocês se esforçaram para conseguir e não reclamem depois dizendo:

“Não era bem isso que eu queria”...

Pois é, pior sou eu, cujos  "herois morreram de overdose e meus inimigos estão no poder”. Ainda me lembro de meus tempos de riponga tão felizes(minha geração só queria viver em paz e deixar os outros viverem...)

Ver os anos se passarem é , de certa forma, , bem libertário! Você pode dizer: “Cansei , estou de saco cheio”.

Acho esse mundo uma mala sem alça, uma boa merda, as pessoas desinteressantes em sua grande maioria e me esforço todo dia, pra tentar viver nele, buscando refúgio no que ainda acho que vale a pena (literatura, desenho, pintura, fotografia, coisas belas que dão paz...). Arte salva.

Meu sonho de consumo atual é ir embora e morrer na África , com sorte, atropelada por um elefante...rs



PS - Desculpem, acho que tive um péssimo dia e estou descontando neste texto...

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

O soufflé: uma metáfora da mitologia francesa

Emily em Paris 

Os franceses andam chateadinhos com uma série da Netflix chamada: Emily em Paris. Pudera, a série é americana, ligeirinha, pouco reflexiva, divertidíssima, fácil de ver – e, claro, bobinha, como todas as maravilhosas séries americanas que amamos tanto e que são responsáveis pelo nosso bem estar quando o mundo se torna um lugar muito duro.Tudo o que os franceses odeiam.

Lily Collins em  Emily em Paris


Para  alguma coisa ter o selo francês (que todo mundo sabe: selo de elegância) essa coisa, seja lá o que for,  tem que ser difícil, devastadora, revolucionária, dolorosa, tem que atingir a perfeição. E burocrática. Dizem as más línguas brasileiras que lá moram que o país consegue ser pior do que o Brasil nesta questão. Eu nem consigo imaginar como seria isso...

Eu amo a França. Tanto que estudei a língua, me dediquei aos poetas franceses(Baudelaire, Rimbaud) de coração puro e cheio, sou fã ardorosa de Voltaire, Rousseau , Diderot, e não consigo imaginar a literatura sem Gustave Flaubert nem o cinema sem François Truffaut. “Os incompreendidos” vai ser sempre um dos meus filmes preferidos. Porém, comecei a desconfiar do nariz empinado francês  quando aprendi a fazer soufflé.

É isso mesmo! O soufflé, como se sabe,  tem uma história de tradição na França. Segundo os franceses, só um francês , que desde pequenino aprendeu a fazer com  sua avó, sua mãe, sua tia, sua vizinha, blá,blá,blá consegue fazer um  decente. O resto é penar numa escola de alta culinária, como a Le Cordon Bleu e gastar todas as suas economias de anos para aprender a fazer AQUELE que seja digno do nome.

Pode parecer para alguns que eu estou exagerando. Mas, não. E o filme Sabrina de 1954 com Audrey Hepburn mostra a nossa bela americaninha sofrendo na Le Cordon Bleu para fazer um: que acaba como um bolo solado. Criou-se até uma superstição em torno do soufflé. Não se consegue fazer crescer quando se está apaixonado. Balela pura.


Audrey Hepburn em Sabrina , 1954

O soufflé tem alguns segredos , é verdade. Precisa de prática(como tudo na culinária). E, devo confessar, que até aprendi o meu com uma francesa autêntica. Na internet! Mas não é pior do que fazer um quindim ou uma baba de moça , pode acreditar. E imagina o que seja fazer um acarajé, mas nunca vi uma baiana estufando o peito por ter feito um...

O soufflé é até bem fácil e divertido depois de pegar o jeito. É um prato para crianças fazerem...

A mitologia do soufflé

Os franceses são experts em mitologias. Inventaram que só é champagne se vier da tal região de mesmo nome , só é alta costura  se for feita lá, só é Madeleine se for feita num bistrô de Paris, um crepe brasileiro é uma imitação , um vinho californiano, não se compara. Haja paciência!

Tudo MENTIRA! Deslavada.

Prove um vinho francês mediano e tenha certeza de que os chilenos são melhores! E mais baratos...rs. A África do Sul, a Itália, Portugal também faz vinho melhor e mais barato do que a França. Para você comprar um vinho francês tão bom quando um vinho mediano chileno vai ter que desembolsar horrores. Sim, o nariz empinado. Enquanto eles dormiam  com as glórias passadas, os outros passaram à frente....

A guilhotina de novo

E continuam as mitologias.

Veja este ensaboado presidente francês que se nos apresenta. Sua única virtude é não gostar de Bolsonaro. Os portugueses tiram sarro dele em seus jornais dia e noite e não é pra menos...

Incapaz de ver o que se  passa diante do seu nariz e de resolver os seus problemas, que não são poucos,  agora vê um professor decapitado e vem falar em “inimigos da república”.

Ora, ora...precisou rolar uma cabeça de forma selvagem(quem achou que pudesse ver isto no mundo de hoje?!?!) para ele enxergar que a França não é perfeita. Não é o território da democracia, da liberdade de expressão nem de merda nenhuma, conforme eles acreditavam – muito longe disto. Parece mais um vespeiro pronto a explodir como o próprio EUA.   Que precisa mudar. Que já passou da hora.

Como dizem os portugueses: “De passeata, eles são bons...mas...”

E a democracia, essa, se alguém encontrar por aí, me avise...

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

 Sopro da infinitude fazendo barreiras nas gotas do navio do tempo:

longe,  a mão de um carrasco cospe trevas

em uma cidade de nomes intermináveis.

A vida louca do mar esparrama sustos na neve.

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

 

Lampejos tortos de dor clareiam a vida,

que – frisada – desce, em direção

ao oriente

para encontrar

as estrelas.

sábado, 11 de julho de 2020

10 escritores que valem a pena


1.       1. Jorge Luis Borges

Li pouco dele. Mas o pouco que li, me deixou tonta como se eu tivesse descoberto uma espécie de tesouro pirata. Contos meio inescrutáveis são uma mistura da sua enorme erudição, que ele negava – ele mesmo disse em entrevista que leu muito pouco na vida  e tinha os livros e uma biblioteca enorme apenas pra se cercar deles,  já que era limitado pela sua cegueira que foi acometida por volta dos 50 anos-  com uma imaginação sem limites. 
Não são pra qualquer leitor. Só para os que amam muito a literatura e a ideia da literatura. Muitos deles não contam histórias precisas, daquelas que se esperam ser contadas - mas, são desdobramentos literários de uma mente que mistura ficção, realidade e um amor aos livros. O resultado é inimaginável! Nunca vi em nenhum escritor e acho que nunca veremos de novo. Borges é ÚNICO.

2.      2.  Gabriel García Márquez

Matei muita aula pra ler “Cem anos de solidão”, o primeiro livro que li deste incrível escritor e seu maior clássico. Quem nunca leu esse livro, devia sair correndo e comprar agora. A história da família Buendia é imperdível. É um verdadeiro contador de histórias, uma se segue a outra, em série, como se estivéssemos navegando numa aventura sem fim. Há uma pitada de mágica, de beleza  em tudo o que ele escreve.


3.       3. Julio Cortázar

Esse aqui me fez amar os contos  e até hoje  é meu gênero preferido. Cortázar admitiu várias vezes que escrevia contos,  influenciado pelos seus sonhos.  E é por isso que sua pegada surrealista pode ser vista em muitos deles.  E trazem aquele quê de Insondável...
 É um escritor que sempre volto pra reler alguma coisa, que sinto saudades, e volta e meia está na minha cabeceira. Intrigante, lindo e misterioso.

4.       4. Clarice Lispector

Sei que é um clichê gostar de Clarice, mas não tem como...rs. Das mulheres ela é minha número um (mas tem, claro,  Jane Austen, Virgínia Wolf, Katheryn Mansfield, Karen B.,Alice Munro etc  etc etc). Alguém já disse e não lembro quem, que ler Clarice é como “conhecer uma pessoa”. E é exatamente isso.

É uma aventura. Clarice, para mim é o verdadeiro arquétipo do escritor porque  ela escreve tateando, buscando alguma coisa , que nem ela sabe  - parece – e o leitor , percebe isso . Vai ficando com raiva, com medo , incomodado, entediado até - até que  de, repente, ela encontra , e daí, ela consegue te mostrar  e você consegue enxergar além das palavras.

5.       5. Charles Bukowski

Yes. O “velho safado”, o maldito, o alcóolatra, o destemperado. Não existia jovem rebelde que não lesse Bukowski  quando eu era adolescente. A gente se deliciava com as maluquices de Chinasky, o alter ego de Bukowski. Ele não só é um escritor maldito, e ignorado pela academia (e por isso , melhor ainda...rs) como é também um poeta incrível. Sua linguagem crua, sem peias, suas prostitutas, seus bares, seu whiskie  derramado, sua bebedeira, seus modos toscos – tudo – é uma desculpa pra um lirismo que surge nos lugares mais inesperados...

6.       6. Philip Roth

Esse aqui no futuro, se eu não estiver enganada, será execrado. Talvez se rasguem os seus  livros em praça pública. Philip Roth é um animal em extinção.  Pela literatura que se faz agora e pelo caminho que estamos indo, acredito que ele seja um dos últimos moicanos da literatura maldita , desassombrada.

Li  quase nada  dele, mas  já se tornou um dos meus queridos. E quero ler tudo dele. Faz uma literatura sem peias, sem poupar ninguém, sem amarras,  estilo anárquico, caótico, errático, com uma galeria de personagens que vai jogando  na sua cara aos poucos, com muito dele mesmo, muito do mundo americano, daquela  coisa de Nova York, dos imigrantes, dos judeus, do estranho, do mundo gauche, da marginalidade,  com uma pitada de melancolia  e muito de humor. Você simplesmente desanda a rir lendo os livros. E se vê dizendo ,  muitas vezes: “Mama mia, que cara loucoooo!” ...rs. Crazy, crazy.

É um pouco chocante e acredito que  da geração milennium em diante  ninguém consiga lê-lo sem nojo. Com seus modos e linguagem padronizados e previsíveis  e comportamento moralista e acusador, dificilmente captariam o espírito desse escritor totalmente amoral,  que passa muito longe desse esboço tecnocrata  que vem reduzindo o mundo a esquemas corporativos regrados,  sem alma, e sem ternura...

(Agora, se você faz parte dessa geração e gosta de Bukowski, acho que talvez consiga suportar este aqui...). E, parabéns, você é um ser extraterrestre! rsrs

(Estou falando na maior sinceridade e quem avisa, amigo é!)

Não é pra qualquer leitor  , definitivamente, só indico àqueles que  põem a literatura acima dos nojinhos e considerações morais. Realmente quando se lê “O teatro de Sabath”, por exemplo(um livro que eu adoro!), vai dando um certo asco as loucuras do personagem, sua obsessão por sexo – e sexo vulgar – em alguns momentos, mas isso, não resume a essência do autor, nem de longe.

  Philiph Roth escreveu enlouquecidamente (tem  uma obra caudalosa    e  mesmo quando anunciou que ia parar de escrever, não    conseguiu).  Era um escritor  daqueles de vocação, que não existem    mais...

  O que veremos no futuro será outro tipo de literatura. Eu não sei    ainda  qual...

(Mas eu, sempre vou preferir as velharias....rs)

Até gostaria de conhecer um escritor novo  de que eu gostasse , mas ainda não aconteceu, infelizmente. Quando eu gosto de alguém que não conheço, então vou conferir e o cara já dobrou os 40, 50, até 80 anos, no mínimo, se já não morreu...rs.

O engraçado é que os escritores do século XX, por exemplo, já eram bons, mesmo na juventude...alguns escreveram seus melhores livros bem jovenzinhos, o que é um caso a se pensar...

Fica pra outra hora!

7. Nelson Rodrigues

O melhor dramaturgo brasileiro e, com certeza, o mais consistente. Nelson Rodrigues era tão bom como criador, quanto era como observador da sociedade real. Mal compreendido até hoje, é  outro que vive á margem da academia, e se você se der ao trabalho de ler ao que algum intelectual fala dele hoje(infelizmente eu fiz isso!), dá até raiva de tanta burrice tosca e de tanta  incompreensão, mas mesmo assim ele nunca pôde ser ignorado. Sua obra fala por si só. É um retrato da sociedade brasileira: machista, imoral , hipócrita. Sem falar na compreensão que ele tinha dos desejos humanos. Escrevia sem medo, de forma deslavada.  Uma característica só dos grandes, que não se importam com a opinião dos cretinos obtusos, que fazem uma literatura envergonhada.

7. 8.   Dezsó Kosztalányi

Ele é húngaro e só o conheci agora. Mas decidi incluí-lo na lista porque não queria  que essa lista ficasse aquela coisa chata , de só clássicos que todo mundo já conhece. Então  achei por bem colocar um desconhecido do leste europeu. Esse escritor é uma delícia. Seu único livro que li (O Tradutor Cleptomaníaco)  é tão engraçado ,  inteligente,  lúdico e imaginativo e em alguns momentos me lembrou o humor brasileiro transplantado pra outro ambiente. Daí acredito que os brasileiros possam se identificar. Eu fiquei maravilhada!

9. Thomas Mann

Thomas Mann é talvez, dos clássicos, o meu preferido. Gosto até mais do que de Tolstói, talvez, não sei. É páreo duro!

Meu livro preferido é “A Montanha Mágica” (infelizmente emprestei pra alguém que nunca me devolveu, motivo pelo qual não empresto mais livros!)

  10.  Charles Dickens

Esse aqui é um escritor que todo mundo tem que ler pelo menos uma vez na vida. Dickens faz as melhores descrições da literatura para mim, de forma que você é transportado pra uma Londres sombria, invernal e vê TUDO na sua cara, como se estivesse diante de um filme. É incrível! Seus personagens são tão bem construídos , a partir da descrição do próprio ambiente, que você consegue enxergar aquelas vidas presas ali naquela dada situação e se apaixona por muitos deles e tem raiva e horror de outros, exatamente como se a literatura fosse a própria vida. É um mágico.

Gosto de ler Dickens quando o mundo real não me interessa mais e preciso de uma fuga, quando passo por muita coisa ruim. Fecho as janelas, abro um livro seu e adeus  mundo...rs.


·        *** Outra hora, se eu estiver com paciência, continuo essa lista. Quem sabe consigo fazer uma lista dos vivos!

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Da série "Fora da Gaveta": As peles dos animais


AS PELES DOS ANIMAIS

Daniel,
um pássaro...

Olívia,
leite de tigre.

A matéria formosa de Rosa.

Essas dulcíssimas tempestades da chuva são os olhos de Francisco, serpentes.

A tarde eternizada,
as memórias de flores de Paulina, as muralhas, as borboletas...

Longe, longe, uma pérola rebrilhando no ar: Simone,
animal respirando.

A primeira vez que eu vi Teresa entendi que era melhor morrer do que viver sem ter sentido a condolência. Teresa, uma pele de brilho azul, galvânica, um pavão,  os deuses enlouquecidos davam bom dia, os reis se levantavam dos túmulos pra governarem mais uma vez, toda a estratosfera regredia a um nível de átomo primeiro, um veneno intenso marcava a tarde suada da terra e o sol, recolhido,  cobria as catedrais daquele branco gótico e envelhecido por dias transparentes , imorais.

A terra secava. Os pés de Teresa. As catedrais vazias. As almas condolentes.

Não vou te dizer que eu te adore, Augusto, isso que eu sinto é só uma confusão que eu nunca soube dar nome, é espírito, matéria voraz de nada, alguma coisa que é outra coisa, algum juízo indefinido de moral duvidosa, angustiada, só quero te dizer, entre as telhas, os ventos, as folhas que caem dessa bananeira dessa casa estúpida e antiga que já te guardou, que já me guardou e que não guarda ninguém,  é que eu te amo, assim,por um momento, exatamente esse agora que você me olhou porque você não presta, porque você é um cafajeste sem sentimento e não essa pessoa assim cheia de tantas cores e tantos medos e tantos impulsos irracionais, esse que me estende a mão, todo tigre  , que me toca os joelhos por baixo da perna, esse, que se me avizinha no escuro, debaixo da luz, esse que molha a boca na língua e me vê na semi-escuridão , que me diz : “eu fiz pra você”.

Eu te guardo: Giorgio. Pombo.

Assim: desde que as ruas abriram esses caminhos felinos, que as pedras fizeram marcas nos tijolos, que as britadeiras quebraram os ferros do assoalho, que o cimento se apossou da terra, que os sabres depositaram cascalhos sobre a relva e a massa se apossou dos muros da noite e a fumaça fria  foi subindo pelos cantos das paredes,  eu fiz uma oração pra não esquecer o teu nome...
Esse, que eu não ouso dizer...

Eu não te envenenei, Nara- onça.

A hora passa atordoada, Carolina: abelha –roxa, caracol amarelo.

rápido PT urgente mistério a ser resolvido PT longa noite insone outra vez PT aguardo tua resposta, Aldo.

Há tantas cores nos girassóis, Vincent,
que os pássaros morreram incendiados...

Marcos,
Nem adianta disfarçar nem pirar, os leopardos fogem pra floresta, é certo que o sol vai brilhar amanhã, let’s play again, let’s do that, so twists again, like you did last year, do you remenber....

Round and round and round again,
So baby you let me soul and than…

Não gostei do tom, Giovana raposa,  olha que eu sou muito paciente, mas isso já foi demais...

Eu sempre vou te amar, Clarice, você, a chuva e esse silêncio de um som de pomba pequenino batendo na janela até quando chega o anoitecer e o céu desce violeta e cinza às vezes, por que não?

Leda, um cisne
                passando...

Henri: cachorro, ele não prestava. Claro, com um nome  desse. ...

Tomás é para sempre o nome de um sonho alado que tive em algum lugar que não me lembro mais se estava nele ou se lembrei de uma vida que tive ou terei...

Fernanda, o meu eterno girassol dourado.

Lorenzo,
        uma nuvem...



PS - EXPLICAÇÃO AOS MEUS AMIGOS: Talvez alguns nomes aqui deixem alguns pensando que todos esses existem, já que conheço Teresas, Augustos, Clarices etc. Não. Obviamente alguns nomes aqui são eles mesmos: Daniel é o Dan , Fernanda é Fernanda, Marcos é o meu primo mesmo, Augusto (não é o da banda,por favor! rs Foi apenas um nome que me veio há muito tempo quando escrevi esse poema, pensei em trocar, mas um poema é sempre como foi concebido!), Paulina e Francisco, sim são os meus avós maternos; ; Carolina (de novo, é apenas a da janela, a do Chico Buarque); Teresa  foi inspirada num poema de Murilo Mendes, é uma intertextualidade;Giorgio, foi meu amor de infância, que não se chamava Giorgio...rs; Vincent (é o Van Gogh mesmo!); Clarice (é a Lispector) a escritora ;Tomás é um personagem que me obceca e que sempre reaparece quando escrevo algum conto(ele tenta ficar por ali...rs) mas, faz parte de um conto que JAMAIS consigo terminar;  Aldo foi um amiguinho de infância que morreu muito novo, meramente metafórico e os outros também são só metáforas construídas(aliás, TODOS ELES e essa explicação é totalmente inútil, mas que jeito!...rs) ; e Lorenzo, que eu penso que representa o meu futuro , se eu tiver algum...  

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Da série : fora da gaveta


Acho que vou voltar a falar por metáforas. Escrevendo um diário, mas não pra mim – para que me leiam – enquanto me despeço um pouco da vida deixando frases a esmo, não nesse blog, mas nos meus gestos, que vão se diluindo nessa imagem que eu ainda não sei qual é, como se fosse um navio ancorado numa praia vazia, como se fosse uma imagem cinza clicando numa página rosa de caderno, como se fosse eu – agora vazia sem você – e sozinha...cicatrizando...

quarta-feira, 19 de junho de 2019

O homem da casa


Um dia você acorda descasada, vivendo num casa que não é sua, não sabendo  a renda que tem, ou do quê deve prestar contas a partir de então e descobre que aquela família  tão simpática que  tem,   na verdade,  acredita firmemente , como no século dezenove ,  que os homens da família devem ser os maiores beneficiários da herança que os avós ou os pais ou as fadas deixaram.

Essa tomada de consciência é um choque e talvez dure uns anos, dependendo do seu grau de vontade em lidar com a realidade. A partir de então você deve ter  três coisas em mente que te acompanharão: os pesadelos, os cabelos brancos, as preocupações.

Os pesadelos envolvem, principalmente, cobras , ratos,  e outros bichos nojentos.Os cabelos brancos são uma chateação  que a farmácia próxima resolve, mas o pior e perceber que você não quer ser homem. Para isso não há remédio mas...

Parabéns, agora você é O HOMEM DA CASA!

A partir de então fique atenta a vários movimentos masculinos: homens que enviam relatórios com   muitos números , eles são enganadores (NUNCA OS LEIA , SEM UM ADVOGADO) ; homens que dizem que vão te proteger (eles não vão, nunca vão); homens que não pagam a conta dizendo que você quem quis assim, que as mulheres criaram isso  (eu nunca quis isso...rs)

 (Então você chora e chora e se sente frágil. E desejaria ser um homem forte, aquele que troca o pneu e mexe com brocas e parafusos, mas adivinhe só:  você é esse homem!)

Vantagens: Se sua filha der sinais de indisciplina, você pode bater na mesa, gritar em alto e bom som: “Quem manda aqui sou eu!” Depois chore no chuveiro, à beira do fogão  ou coisa que o valha. Não deixe que ninguém te veja nessa situação. NUNCA!

 (Bem vindo ao insuportável mundo dos adultos!)

Sim, você é seu homem e tão perdido quanto qualquer um deles. A boa noticia e que  já sabe que eles são como você; a ruim,  é que eles acreditam que são melhores ou se valem dessa crença gerada pela sociedade.

Virginia Wolf em um “Um teto todo seu”,  refere- se ao fato de que as mulheres historicamente não produziram tanto quanto os homens por terem que organizar a vida deles. Ela divaga sobre algumas questões sobre a criatividade das mulheres, como uma sobre  se a irmã de Shakespeare poderia ter sido  o próprio Shakespeare ou coisas como essas, se tivesse um mundo organizado, um teto todo seu, como ela fala no livro.

 Assim, ao longo da historia elas foram  mães, criadas, musas, prostitutas, enquanto os homens criavam o mundo. A julgar pela biografia de alguns pintores, por exemplo, Virginia Wolf não estava muito longe da verdade. Pense em Turner,   em Klimt, Picasso, todos eles se aproveitaram de um modo ou de outro de um toque feminino em suas vidas. Eram elas que estavam lá limpando os vidros, arrumando as tintas, posando para seus retratos, comprando as garrafas de vinho pra que eles produzissem suas obras de arte.

Segundo  essa premissa Woolfiana,  então as mulheres organizam e os homens produzem.Que mundo injusto!!!

Big Eyes é um filme de Tim Burton que conta exatamente a historia absurda de Margareth Keaner, a pintora icônica dos anos cinquenta que deixa que seu marido , mesmo que sem querer,  leve a fama pelos quadros que pinta. Ela não consegue sustentar a farsa  que se torna insustentável pela ambição do marido. Como mulher, é difícil não se impressionar com essas histórias. Não fosse eu uma mulher desorganizada, que dificilmente produziria qualquer coisa se tivesse um escritório organizado e tempo de sobra. Fico pensando nos meus momentos de turbulência.

Foram eles que me levaram a escrever, criar, pensar na vida, inventar novas receitas, enfim essas coisas inúteis de que minha vida se ocupa...

Sou dessas que quando um terremoto acontece numa esquina pega uma caneta e cria anotações malucas em cadernos (devo ter uns 20, espécies de caderno “da Vinci”, com desenhos, pensamentos, citações, histórias, contos,  loucuras, poemas, diários, aforismos, delírios), nem sei muito bem pra quê. Que ele nunca se conclua a não ser na minha morte! Fico pensando se ele se concluiria se eu tivesse um teto todo meu?

Acho que não...
Sou caótica por natureza ou desenvolvi algo que já se sabe bastante hoje: a ideia de que as mulheres por evolução  conseguiram desenvolver a técnica do caos.  Sempre me impressionou a história que ouvi na faculdade sobre as irmãs Bronté e  de como elas,  filhas de um pastor altamente conservador na Inglaterra Vitoriana, escreveram clássicos tão fortes como “O morro dos ventos uivantes”, na sala de estar escondida dos olhos do pai austero, entre um bordado e outro . Acho que nenhum homem conseguiria fabricar um personagem  como Heathcliff nessas condições. Só mesmo uma mulher podia conceber aquela paixão visceral de um Conde de Monte Cristo elevado ao cubo. Convenhamos,  ele é de tirar o fôlego com tudo aquela força da Inglaterra vitoriana:  a paixão,  a força erótica,  o vulcão animalesco.

Juliete Binoche e Ralph Fiennes como Cathy e Heathcliff

Como Emily Bronté escreveu aquele personagem com tanta força? Tudo se deveu ao impedimento? Ao teto que não era dela? São as mulheres condenadas a produzirem em meio ao caos, sem silêncio, sem um teto todo seu, com o filho chorando no quarto ao lado e a louça por lavar na pia?

Quantas mulheres ainda serão descobertas no futuro dentro de um passado que não tiveram vez? Quantos baús fechados existem por aí?



quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Fahrenheit 451: o fogo numa caverna de Platão


   O filme do diretor Rami Bahrani,  originado do livro Fahrenheit 451 de Ray Bradbury publicado à época da  Guerra Fria,  mostra uma sociedade futurista onde livros são proibidos e queimados (a 451 graus F, o que dá título à obra) por um corpo de bombeiros com a função exclusiva de se dedicar a este feito.
   "O Instituto", como é chamado o “poder superior”, uma espécie de governo grande irmão, com olhos por todos os lados e verdades manipuladas, crê que “saber é se confundir”, portanto trabalha “a favor” da humanidade e do próprio sistema, poupando os indivíduos das escolhas que pretendem evitar.  Para o "bem" deles e da sua felicidade, obviamente. Assim lhes são proibidos a leitura, o conhecimento dos livros escritos e/ou do acervo da internet.

Imagem do filme (1966) de François Truffaut
 Para isso, naturalmente, embora tudo seja feito às claras e transmitido em redes coletivas , tudo é manipulado.  Até chegar a cena em que uma mulher é descoberta com uma biblioteca monstra e resolve incinerar-se junto com os seus livros. Ao morrer grita: “Omnis”.
  Depois se fica sabendo que omnis (do latim: inteiro, total, de todo tipo etc) é um dispositivo que contém todo o segredo, todo o conhecimento produzido pelos homens através da internet e que uma cientista guardou dentro de um pássaro, que deverá ser libertado e reproduzido rumo ao Canadá ou algo assim.
  Como na caverna de Platão, um dos integrantes do corpo de bombeiros, sai da sua ignorância ao salvar um dos livros que incinera todos os dias. O livro salvo não podia ser mais simbólico: “Notas do subsolo” de Dostoievski. Curioso,  começa a ler ao mesmo tempo em que descobre essa sociedade secreta que , entre outras coisas, decora livros de memória, além de serem detentores do “OMNIS”.
  Mais importante do que explorar o roteiro em si, já que o filme, não é lá grande coisa (cheio dos tradicionais clichês e pasteurizações dos filmes americanos) , é refletir sobre a rede de significados pontuados aqui e ali ao longo da história propriamente dita.
  Uma das personagens da sociedade secreta, Clarice, diz num certo momento:


“Não foi o instituto que fez isso conosco, nós fizemos isto a nós mesmos, as pessoas pediram  por tudo isso.”


  É difícil imaginar que os homens peçam por algo que os limita, como a própria ignorância que impede a sua liberdade. Mas é exatamente isso o que acontece. Também conosco, que estamos sujeitos a uma sociedade tomada pela ignorância coletiva, como uma bomba letal.
   A verdade, ”o caos do conhecimento “ , como diz o Capitão do corpo de bombeiros, é o que as pessoas evitam quando se negam a conhecer não os fatos, que esses podem ser transmitidos em praça pública , e cada um dá aos fatos a interpretação que bem lhe convém, mas sim, a verdade , ela mesma,  que nunca é fácil e é por si mesma escondida entre camadas e camadas de livros e publicações e memórias e acontecimentos e mentiras . É de se perguntar se ela existe.
  Ela é o caos, por si mesma.Não é algo que se encontra ali na esquina. 
  Não é que não exista, é que não é fácil encontrá-la e talvez seja até impossível, mas nem por isso, quer dizer que não exista. E afinal das contas, convenhamos, não tem muita gente assim interessada na verdade, ou melhor dito, no "caos do conhecimento".
  Conhecer dá trabalho. Não é serviço pra qualquer um...tem que se estar muito bem disposto (inclusive a algumas decepções,  como o pobre bombeiro, que jogou anos de sua vida por mentiras).
  As pessoas conhecem aquilo o que querem: geralmente apenas uma interpretação dos fatos. O que já configura que elas conhecem apenas aquilo, que, de antemão, já decidiram acreditar.
  E o fato de vivermos numa sociedade em que livros ainda não nos são proibidos, não melhora nem um pouco a nossa situação.
  Há gente que, de bom tom, prefere a ignorância escolhida. Há os que continuam a ver as sombras na parede, monótonas, e para sempre iguais. Há os que se arriscam ao acaso tenebroso, caverna adentro, para qualquer lado, às cegas, tentando enxergar, por sorte talvez,  uma luz no fim do túnel.
  E, poucos, talvez muito poucos, continuam sabendo que essa MERDA da verdade é um pássaro livre que corre continentes, sem nos dizer aonde vai...