O amor aos carros ,a que por um defeito genético
qualquer me falta, é tão grande que alguns desses semideuses são vistos como
fins em si mesmos, e não meios. São amados como bens maiores, como os cachorros,
as músicas preferidas e os celulares. Donos de carros grandes e potentes são
particularmente vulneráveis a essa paixão. Uma espécie de confirmação do poder
da pessoa. É quase certo, do ponto de
vista de quem anda a pé pela cidade, que há muito mais probabilidade de
buzinadas no seu ouvido de um dono desses gigantes motorizados do que de um
fusquinha ferrado. Há uma relação direta entre autoconfiança & o tamanho do
carro.
Dia desses tomei uma buzinada de um desses. Era
gigante, preto e brilhoso, o pitbull dos carros. Seu dono, impaciente, e deveras
amparado pelo seu poder psicológico de máquina mortífera, me viu brevemente
colocando os pés na esquina e resolveu, antes que eu avançasse um passinho, testar
o meu tímpano maltratado. O que ele não viu era que o sinal acabava de fechar
pra ele, que se viu obrigado não só a me ver atravessar a rua, como ainda
conheceu o meu sorrisinho sonso que costumo dar a babacas como ele, acrescido, tal
era a raiva que eu senti da buzina histérica direcionada constrangedoramente a
mim, de um sinalzinho bem conhecido dos dedos que quer dizer exatamente: “vai
tomar no seu ...”. Belo contraste com meu vestidinho branco de professora cheia
de gentilezas. Ah, quando eu perco a minha doçura!!! A cara dele não vi, que o
vidro, claro, era blindado, mas coitado,
ele nem pôde me atropelar...
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